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Planos
Thayná Monteiro Gripp
'Pra quê manter os pés no chão
Se todo mundo quer voar?'
E sempre tem um frustrado que te critica quando você diz que vai fazer doutorado em Paris, que vai passar a lua de mel na China, que vai se casar, que vai fazer aquele curso para o qual tem vocação, não o que paga melhor.
Sempre tem algum frustrado pra criticar os contos de fada, pra falar mal de amores românticos, pra dizer que sonho não alimenta barriga.
Não alimenta. É fato.
Mas o sonho alimenta a alma. Mata a sede, a fome, a vontade de vida.
Quem não sonha, não tira os pés do chão, morre.
Aos poucos. O que pra mim é a pior morte.
Já falei aqui sobre o Homem de Lata do Mágico de Oz, é um bom personagem. Uma boa metáfora. Como aquela do homem que enterrou os sonhos em um baú, com medo de que eles não se realizassem e ele se frustrasse.
E dá pra viver sem sonhar?
Nunca consegui.
Sou o tipo utópica, romântica, sonhadora. Acho que nasci assim.
Já tomei tanto tranco da vida por isso, mas já fui feliz em tantas situações que não teria sido se tivesse ficado de coadjuvante da minha própria vida.
Pra mim existem dois tipos de pessoas: os astrônomos e os astronautas.
Os do primeiro time sonham com estrelas, mas se debruçam em cima de cálculos e fórmulas, porque sabem os riscos de conhecer pessoalmente aquilo tudo.
Os astronautas arriscam a vida no espaço. Partem para uma viagem sem saber ao certo se vão chegar. Eles são apaixonados pelas estrelas, assim como os primeiros, mas para eles não basta ouvir falar, não basta estudar sobre. Eles têm que sentir.
Assim somos com tudo. Preciso dizer que sou astronauta?
Eu tiro os pés do chão, aliás, é difícil achar um instante em que eu esteja com os dois pés bem fincados.
Eu não tenho medo de sonhar, não tenho medo de me frustrar, porque melhor sofrer por não ter realizado, do que sofrer por não ter perspectiva.
Eu vivo na expectativa da realização.
Porque eu acredito em um Deus que realiza milagres e sonhos.
E não é só isso.
Eu acredito no poder que esse Deus me deu de realizar tudo aquilo que eu quiser, que for para a honra e glória dele.
A minha felicidade, sou eu que planto. Semeio aos poucos, às vezes em solo infértil. Desperdiço semente, mas não a chance.
A vida é pequena e única.
Pra quê fingir que não sonho, que sou exata, calculista?
No fundo, o sonho do astrônomo é estar onde o astronauta está.
O que lhe falta é coragem.
O que me sobra é vontade de ser feliz, essa coragem do 'tudo ou nada'.
Eu ainda vou voar, vou planar.
Porque plano, nada mais é do que algo que está ali, voando...
Os meus planos têm companhia. A minha, eu vivo planando por aí.
Se um dia eu cair e você achar graça, não faz mal, ao menos eu senti o vento, eu vi as estrelas mais de perto e eu sei de algo que você nunca saberá.
A graça de estar planando sem medo de cair.
Um comentário:
Oi Drica,
Realmente, esse texto da Tahynná é maravilhoso.
A gente vai lendo e vai achando pontos de identificações com ele. É muita sensibilidade e inspiração para se criar algo assim, que tem uma autora, mas que compõe um pouquinho da vida de todos nós. Parabéns por colocá-lo no seu Blog, dividindo conosco.
Valeu!
Cheiros, Mira
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