quinta-feira, 25 de junho de 2009

Antonio

Hoje, meu avô Antonio, faria noventa e quatro anos.
Viveu setenta e seis, muito bem vividos.
Foi um homem admirável, apaixonante e apaixonado por tudo em que acreditou! Lutou pela vida com a garra de poucos.
Chegou em Recife, na década de 30 depois de uma caminhada de cerca de 200 km a pé. Levou meses, mas chegou e foi a luta.
Viu minha avô ainda menina e botou na cabeça: "Vou casar com ela". E casou!
Viveram 56 anos muito felizes.
Meu avô tinha uma voz de trovão, não tinha medo de nada.
Em plena década de sessenta ele tomou meu pai das mãos dos militares.
Explico: Meu pai adolescente, recém chegado do nordeste ao Rio de Janeiro, ficou de bobeira na rua tarde da noite junto com outros rapazes. Nada demais, mas era um tempo em que tudo era demais.
A patrulhinha chegou e colocou todos no camburão. Destino: Quartel da Invernada de Olaria. Acusação: aglomeração (?)
Meu avô chegou, pegou meu pai pelo braço e perguntou aos milicos: "Ele roubou? Ele matou?"
Os militares responderam um "não" sem graça.
Prontamente meu avô respondeu: "Senhores, meu filho vai pra casa"!
E foi mesmo. Ninguém ousou contestar!
Esse mesmo homem, também era doce e emotivo. Lembro de um dia vê-lo chorar apenas por ler uma carta de minha tia que morava longe.
De longe, meu avô é a lembrança mais doce que tenho na vida. Pra ele, eu era um presente, um cristal que era tratado com toda a delicadeza.
Ele lia pra mim quando eu era criança. Mais tarde, quando adoeceu, eu virei seus olhos. Passou seis anos de cama, e nunca o vi reclamar de absolutamente nada. Continuou alegre até o último dia.
Tenho inúmeras estórias. Tantas que dariam um livro, e dos bons. Resumi-lo num post é muito pouco. Paro aqui.
Meu filho, quando o tiver, será Antonio. Sonhei com isso a poucos dias: Um menino em meus braços, que eu chamava de Antonio.
Hoje amanheci com saudades, muitas saudades, das mãos do meu avô ...

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As Mãos do Meu Pai (Mario Quintana)


As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma...

5 comentários:

Ita Andrade disse...

que menina tão rica!!!

Adriana Calábria disse...

Realmente, minha amiga!
Eu sou muito rica. A vida me deu presentes maravilhosos...

Bjsss

Anônimo disse...

Que bela descrição fez de seu avô.
Bela alma ele tinha de certeza para o recordar dessa maneira tão bonita.Bjo

Paloma Flores disse...

Que lindo!
Não só o poema como o texto. Tenho certeza que seu avô se emocionou, onde quer que esteja, assim como quando leu a carta da sua tia.

Valéria Martins disse...

Linda homenagem! Que sorte a sua ter tido um avô desses! Eu não tive, mas minha avó Violeta era tudo de bom. A delicadeza dessa flor, o bom humor, as cantigas que ela me ensinou e todo o amor que me deu. Dia 2 de junho foi seu aniversário. E num dia 11 de julho, há 26 anos, ela partiu. Mas vive junto comigo, em meu coração.