quarta-feira, 27 de maio de 2009

Sobre como repartir o amor




Gêgê caiu meio que de pára-quedas no meu bairro. Era um carioca gente fina que logo fez amizade com toda a vizinhança.

Ele virou amigo da minha irmã caçula, e do meu irmão, apesar de ser muito mais velho. Eu o conheço também mas não ficamos muito amigos.

Passado um bom tempo, ele começou um namoro com Acilda, (nome bem esquisito, eu sei) uma moça que era da nossa mesma rua. Ela havia ficado viúva fazia pouco tempo.

Seria algo banal, afinal eles eram livres. Exceto por um detalhe: Ela não tinha um, mas S-E-T-E (isso mesmo!) filhos. Uma escadinha, como costumamos dizer aqui no nordeste.

A paixão pegou os dois de surpresa. E em bem pouco tempo estavam morando juntos.

Gêgê, tinha o coração extra G, pois repartiu o amor por oito. Ela, mais os sete filhos!

As crianças se afeiçoaram a ele, e ele a todas elas.

Ele ria todo orgulhoso dizendo que havia ganho sete filhos de uma vez.

A felicidade durou pouco tempo. Pois num desses golpes da vida, Acilda descobriu um câncer no útero. Coisa muito comum em mulheres que iniciaram a vida sexual muito cedo e tiveram muitos filhos em curto espaço de tempo.

Ao contrário do que muitos homens fariam, Gêgê permaneceu ao lado dela. Assumiu o cuidado com as crianças e ainda trabalhava.

Eles lutaram o mais que puderam mas ela não resistiu.

Ela morreu em casa, cercada pelos filhos e ao lado dele.

As crianças foram repartidas entre as avós. Metade pra uma, metade pra outra. Não sem protestos de Gêgê, que queria criar toda a turminha. Mas a justiça decidiu assim por ele não ser o pai biológico.

O tempo passou. Gêgê casou e hoje tem uma filhinha biológica. As crianças de Acilda, já estão adolescentes.

Mas Gêgê, que voltou a morar no Rio de Janeiro, sempre que vem a Recife faz questão de reencontrar seus sete filhos.


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6 comentários:

Paloma Flores disse...

Nossa, essa história daria um filme.
Exceto pela repartição das crianças no final.
Que coisa mais triste.
Muito bonita, mas muito triste.

Liga o foda-se disse...

A estória é bonita, mas tenho minhas dúvidas, quem quer ficar perto luta bem mais, como ele já morava perto das das crianças pq não continuou junto ajudando-as a crescer, vai saber de qualquer forma GG deve ser melhor q a maioria dos homens pelo q vc fala.
Mas convenhamos q lutar p ficar som 7 filhos q nao sao seus, num mundo onde a maioria devolveria os seus se pudessem, eh estoria da carochina.

Valéria Martins disse...

Que linda história, Adriana! A vida real é a melhor história, né? Inverossímil às vezes. Mas muitíssimo emocionante.

Beijos

Adriana Calábria disse...

Bom, a parte que eu não contei é que o Gêgê ainda demorou muitos anos pra voltar ao Rio. E ele ajudou, e viu, a maior parte do crescimento das crianças. Mas a necessidade fez com que ele voltasse pra sua cidade.

Outra coisa, nada do que contei e estória da carochinha. As personagens podem muito bem confirmar tudo.

Mesmo assim, sem vc acreditar muito, obrigada pela visita.

Quanto a ele ser melhor que a maioria dos homens, eu não sei. O que sei é que ele é uma pessoa que sabe amar!

Valéria:

Há muito que eu queria contar essa estória, pois foi uma das maiores lições de amor que já presenciei na vida.

Paloma:

No dia em que eu realmente tomar coragem e vergonha na cara (rsrsrsrs!) eu vou escrever um roteiro baseado nela.

Carolina disse...

Que história bonita, mas triste e verdadeira...
Raras ainda por cima.
bjos

meus instantes e momentos disse...

Bom de ler, triste de sentir.
Gosto do teu blog.
Maurizio