quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Rifa-se um coração


Clarice Lispector

Rifa-se um coração quase novo.

Um coração idealista.

Um coração como poucos.

Um coração à moda antiga.

Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.

Rifa-se um coração que na realidade
está um pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos, e cultivar ilusões.

Um pouco inconseqüente
que nunca desiste de acreditar nas pessoas.

Um leviano e precipitado,
coração que acha que Tim Maia estava certo
quando escreveu... "não quero dinheiro,
eu quero amor sincero, é isso que eu espero...".

Um idealista...

Um verdadeiro sonhador...

Rifa-se um coração que nunca aprende.

Que não endurece,
e mantém sempre viva a esperança de ser feliz,
sendo simples e natural.

Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.

Um furioso suicida que vive procurando relações
e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração que insiste
em cometer sempre os mesmos erros.

Esse coração que erra, briga, se expõe.

Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.

Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.

Este coração tantas vezes incompreendido.

Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo.

Rifa-se este desequilibrado emocional que,
abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas,
mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.

Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.

Um órgão abestado
indicado apenas para quem quer viver intensamente e,
contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida
matando o tempo, defendendo-se das emoções.

Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário.

Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas:
" O Senhor poder conferir", eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer".

Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro
que tenha um pouco mais de juízo.

Um órgão mais fiel ao seu usuário.

Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.

Um coração que não seja tão inconseqüente.

Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.

Um verdadeiro caçador de aventuras que,
ainda não foi adotado, provavelmente,
por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.

Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.

Um simples coração humano.

Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.

Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar, mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.

Um velho coração que convence seu usuário
a publicar seus segredos e, a ter a petulância
de se aventurar como poeta.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

"De que vale o paraíso sem amor?"


Tenho uma relação meio conflituosa com o Roberto Carlos. A fase jovem guarda eu adoro, pois meu pai cantava pra mim, e é uma lembrança ótima.

Pra completar, alguém cantou pra mim num violão meio tosco: "se você pretende, saber quem eu sou..." Eu estava apaixonada, e como disse noutro post, eu guardo bem guardadas as boas lembranças!

Mas voltando ao Roberto, tem música que eu amo, tem outras que eu acho o fim...

O Especial dele foi quase o mesmo de sempre, mais foi justamente isso que foi legal:

Assistir ao Roberto, ontem, me deu uma sensação tão boa de coração aquecido, de continuidade...

Estávamos todos ali, eu e meus irmãos, pai, mãe, a sobrinhada... Erámos os mesmos, mas ao mesmo tempo, tão diferentes. Assim como o Roberto, que é o mesmo, mas também se renova a cada ano...

Aquele velho repertório me trouxe tantas lembranças boas de outros finais de ano, das vezes que assisti o Roberto ao lado de Lala (de quem falei em outro post) que era absolutamente fã dele. Esse é o primeiro natal sem ela, e por conta disso meus natais ficarão um pouco mais tristes daqui pra frente.

Também, de eu e meus irmãos pequenos ainda, em outros natais. E agora com a familia aumentada...

Somos os mesmos, só que agora renovados em outras carinhas, e essas carinhas agora também estão crescendo e se tornando pessoas iluminadas. E é tão bom ver isso!


Quando o Roberto cantou Além do Horizonte, a frase que dá título ao post trouxe uma enxurrada de pensamentos e emoções boas!

Estar ali, do lado dos meus, relembrando a vida, fazendo planos, rindo do passado e rindo para o futuro, foi um momento de puro amor!

Meu natal foi bem comum. Mas repleto de muito amor!

E o Roberto cantando essa frase me fez ter certeza de que a vida não vale a pena sem ele!

Que 2009 venha com muito amor para todos nós!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Agradecer





"Agradecer significa:
Tomar o que me é dado,
Segurá-lo com respeito com as mãos,
Acolhê-lo em meu coração,
Até que percebo internamente:
agora é parte de mim.

Agradecer é também:

Aplicar o que me foi dado
E se tornou uma parte de mim
Numa ação que permita aos outros
alcançar também o que me enriqueceu.

Só então o que me foi dado
alcança sua plenitude".

Bert Hellinger

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Corre Adri, corre!





Ando me sentindo o papa-léguas, aquele personagem do desenho animado. Quando era pequena, pra desespero dos meus pais, eu só andava correndo, as marcas estão até hoje nos meu joelhos...

Agora que acabou a faculdade e o estágio, pensei que ficaria mais livre, ia desacelerar... Que nada!
Vou prestar outro concurso em janeiro. Os assuntos pedidos são suficientes pra um ser humano estudar em duas encarnações...
E eu vou ter de me virar com um mês apenas!

Minha vida pessoal, essa, está uma verdadeira confusão!
Estou me fazendo de doida, e botando o concurso na frente.
Fuga!!!!

Passei dois dias descansando. E quem disse que foram suficientes? Não foram!

O ideal seria um mês na praia, lendo, dormindo e escrevendo... Ai ai ai!!! Isso não me pertence!

Nas festas de fim de ano, estarei abraçada ao vade mecum da minha irmã-futura-advogada. Já apelidei o dito-cujo, "carinhosamente" de vá-de-retrum-satanás!!!!!, porque, passado o concurso, nunca mais olharei pra ele na minha vida!

Mas depois de 11 de janeiro, dia do concurso, eu vou...

Bem, não vou nem planejar nada, pois se aparecer algo que role grana, não vou ter escolha!
Sobreviver é preciso...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Amores e lembranças


Amores acabam, isso é fato. Outro fato, é que a vida não acaba e é preciso seguir em frente!
Mas ficam as lembranças. E mesmo que o amor termine, de alguma forma, valeu a pena. Algum bem ele trouxe...
É por isso, que aqui dentro tenho uma caixa de lembranças.
Nela, guardo bem guardados, todos os momentos belos dos amores que tive. De vez em quando eu os retiro para que levem um pouco de sol. Aproveito e os revivo. So um pouco, bem de leve...
Não quero que voltem...
Só não quero que eles caiam no completo esquecimento!
Pois, de alguma forma, eu sou um pouco de tudo aquilo que vivi. E foram aqueles momentos, que fizeram minha vida valer a pena!

Música do (meu) momento...


Jason Marz

A música é bem lugar comum...
Mas, não é por isso que deixa de ser linda!!!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Resumo da ópera

E hoje começou o ócio! Nome chique que eu adotei para o desemprego...
Ontem foi meu último dia de estágio, estou quase de férias da faculdade, falta apenas um trabalho pra enviar por e-mail.
E hoje, no primeiro dia do ócio. Me dei ao luxo de: Não fazer nada!
Até dormi no meio da tarde, em pleno dia de semana.
Esse estágio, por motivos particulares, foi o mais importante da minha vida, pois significou um recomeço. A retomada dos meus sonhos.
Em termos profissionais, foi um dos maiores aprendizados que eu pude ter tido.
Fiz questão de direcionar minha carreira pra área de saúde. Isso se deve em muito ao fato de eu ser bastante ansiosa. Na minha profissão os resultados demoram a aparecer, exceto na saúde, onde tudo é pra "ontem"! Dentro de um hospital as coisas precisam acontecer, a vida não espera.
Muita gente me pergunta como eu consigo. Sinceramente não sei. Mas eu tenho facilidade em trabalhar sob pressão.
Passei um ano na Oncologia Pediátrica. Teve horas em que o choro foi inevitável.
Mas o riso veio muitas vezes também!
Aprendi muito com aquelas carinhas, que mesmo sofrendo, sabem rir e brincar.
É bem clichê o que vou falar, mas você sai muito mais forte depois de conviver com elas. Aprende muito mais do que ensina as vezes...
Bom, não sou mais estagiária. Subi de posto: agora sou pesquisadora. Continuo participando de uma pesquisa que está começando.
Só que o salário, galera, esse diminuiu! A pesquisa não tem remuneração...

Nunca é tarde...

Nunca é tarde para realizar sonhos, esse poema de Mário Quintana traz nas entrelinhas uma reflexão sobre isso.
Pensem nisso!
O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo,
Contra uma parede nua...
Sentou-se... e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Glória,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E então a Morte,
Ao vê-lo sozinho àquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali à sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A Morte chegou na sua antiga locomotiva(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se até não morreu feliz:: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos os que realizam os velhos sonhos da infância!

Para uma mulher de Paraty


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

1° de dezembro


Em notícia publicada hoje no UOL, está em números o grande preconceito que ainda existe em torno das pessoas vivendo com HIV/AIDS.
Pra mim que trabalho com AIDS, essa notícia não é nenhuma novidade. É muito comum me perguntarem se sou soropositiva. Pois o simples fato de trabalhar com prevenção, já deixa as pessoas em dúvida quanto a minha sorologia.

Um dos maiores problemas em relação a AIDS hoje é o preconceito. Pois, ele acaba por cegar as pessoas para o que é essencial, a prevenção.

AIDS é uma DST. Noventa por cento (dados estatísticos) da população sabe disso. A sigla já diz: Doença Sexualmente Transmissível.

Mas as pessoas costumam trata-la como algo extremamente contagioso.Radiação por exemplo!

Respirar o mesmo ar que uma pessoa que tenha HIV não vai levar ninguém a se infectar.
Mas, infelizmente a pesquisa mostra que no inconsciente das pessoas está justamente o contrário.

O pior, é que muitas dessas pessoas que responderam a essa pesquisa, também acham que não fazem parte dos chamados "grupos de risco".

Não sabem elas, que grupos de risco em relação a HIV é coisa do passado. Hoje em dia, qualquer um de nós, faz parte do grupo de risco. Basta não usar camisinha pra fazer parte dele!

Antigamente, AIDS era coisa de homossexuais, hoje em dia, eles se protegem, os índices entre eles cairam. Não são mais grupo de risco.

AIDS era coisa de profissional do sexo, hoje, a grande maioria dos profissionais do sexo faz questão de camisinha! Nesse ano, uma prostituta chegou a apanhar de um jogador de futebol, por ter se recusado a transar sem preservativo. O caso foi parar na imprensa e na delegacia!

Enquanto os chamados "Grupos de Risco" se previnem. Nós, preconceituosos de plantão, estamos aqui transando sem camisinha. Achando que HIV é algo de outra galáxia. E não é!

HIV está disseminado na população brasileira em todas as classes sociais, e em todas as faixas etárias.

E se a gente considerar que a grande maioria da população nunca fez um exame de HIV, os números podem ser assustadoramente mais altos do que mostram as estatísticas.

Portanto, o que nós temos de fazer, é parar de preconceito e usar camisinha!

Pois enquanto perdemos tempo com preconceito, estamos perdendo a noção do que é essencial, a prevenção!

Só pra constar, eu não tenho HIV. Mas isso é apenas um detalhe.

Ps.: Hoje é o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS. Por isso, tomei a liberdade de fugir ao tema desse blog, espero que me desculpem!