sábado, 23 de agosto de 2008

Presentes


Ontem me dei um presente. Uma edição de bolso do Mario Quintana. Estou aqui me deliciando com ele!

Conheço gente que acha que só vale ganhar presente dos outros. Também conheço gente, que além de achar isso, acrescenta o ítem preço ao conjunto. Se não for caro, não vale!

Acho isso de uma tremenda pobreza: A de espírito!

Uma pessoa me disse uma vez: "Pra quê vou te dar um presente, se você sabe exatamente quanto ele custou. Temos o mesmo cartão de crédito, assim perde a graça." Essa falta de poesia, não vale nem comentar...
Depois dessa, botei minha viola no saco, e : Fui! Ainda bem que existe divórcio! Aff!!!


Eu adoro ganhar presentes. Mas, com certeza, os melhores que ganhei não tinham nenhum valor monetário. Tinham, sim, um valor afetivo incalculável!

Amigos presentes, são ótimos presentes, por exemplo. Adoro que lembrem do meu aniversário, e também procuro lembrar do de todo mundo (confesso que com uma certa ajuda do orkut), mas é bem melhor está presente quando estamos sendo realmente necessários.

Procuro sempre estar perto nos momentos dificeis dos meus amigos!

É assim com meu melhor amigo. Ano passado, na minha volta pra casa, ele não me deixou nenhum dia. No passado, quando ele precisou, eu estive presente, também todos os dias. Agora estamos numa fase boa pra ambos, então nos falamos com menos frequencia. A amizade continua a mesma.

Mas voltando aos presentes, concretos, por assim dizer.... Uma coisa boba, já pode significar bastante. Se for de coração, significa que fomos lembrados! Tem coisa melhor que isso?
Se dar um presente, tem o mesmo significado. Quantas vezes esquecemos de nós mesmos nessa vida corrida?
Nada melhor então, que parar e dizer: eu mereço, vou me dar de presente!

Foi o que fiz ontem. Ando me privando de comprar, por absoluta falta de grana. Então usei o bom senso. Não gastei muito. E ganhei uma satisfação imensa! E isso não tem preço, como diz aquela propaganda...


Maurren Maggi


Essa é das minhas!
Ela também veio à tona dos seus naufrágios...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Lala

Ela não gostava de ser chamada de vó. Preferia Lala. Foi como o primeiro neto a chamou espontaneamente. Todo mundo foi entrando na onda, e no final, quase todos a chamava assim.
Devo a ela muitos aprendizados na minha vida. O primeiro foi o da amizade incondicional.
Explico: Ela foi uma das grandes amigas da minha avó. Seria algo banal, senão fossem exatamente opostas em tudo! Vovó é tímida, calada. Sempre foi uma mulher frágil. Ela era falante, expansiva. Forte! Vovó é evangélica. Ela sempre foi católica praticante. Foram amigas, com todas essas diferenças, por mais de cinquenta anos, e nunca brigaram!

Fui uma criança cheia de responsabilidades. A grana era curta, não havia dinheiro pra babás. Então, eu como filha mais velha tinha de cuidar dos três que vinham depois...

Mas na casa de Lala eu podia ser "Eu"! Lá eu respirava... Passava horas enfiada nos seus livros e nas suas revistas (Definitivamente, eu não fui uma criança comum!) lia tudo que encontrava pela frente. Se hoje, sou a leitora que sou, ela tem muito a ver com isso.

Eu amava conversar com ela, escutar suas estórias. Ela foi uma mulher com uma grande vivência. Criada sem mãe,pela avó materna.Casou (ou foi casada?) aos quatorze anos com um vaqueiro bonito (mas mulherengo...) que passava meses fora. Com ela ficou a responsabilidade de educar sete filhos praticamente só. Mas ela deu conta! Virou parteira, enfermeira etc etc... E foi a luta!

Suas estórias dão um livro, e dos bons!

Ela falava tudo que tinha vontade. E a ela eu podia perguntar o que tivesse vontade. E como eu perguntava! Acho que fui a criança mais "perguntadeira" que já existiu.

Eu cresci na casa dela.Aprendi a gostar de café lá. A convivência foi tão intensa que acabei com sotaque do interior. Anos mais tarde, quando estava fora, sempre que eu falava que era de Recife, as pessoas achavam que meu sotaque pernambucano era mais carregado.Típico das pessoas do interior do estado. Foi aí que me dei conta de que era "a fala da casa de Lala".

Lala era uma pessoa diferente nos últimos anos. A velhice a deixou deprimida. Sempre que ia visita-la procurava nessa, os vestígios da outra,e não encontrava. Ficava triste. Na sexta passada ela morreu. Quando soube da notícia, pensei: Desistiu!

Na última vez em que a vi, na hora de sair, ela me disse: "Volte aqui pra me ver logo...Uma hora eu morro sua fdp e você não me vê mais!" Isso foi no primeiro de janeiro. Foi um presságio. Eu com minha vida corrida, não tive tempo de voltar...

Minha dificuldade em lidar com a morte não me deixou vê-la morta. Preferi guardar sua imagem viva, mas acabou que fiquei com uma sensação esquisita de irrealidade... Então escrevo, pra ver se melhoro.

Pra mim ela está viva. O que de certa forma não deixa de ser verdade!